SETE

2014-2021

"Sete" é sobre um ciclo, onde ser e o mundo natural se fundem em imagens que revelam pausa, respiro e regeneração — uma dança contínua entre o visível e o íntimo. Em 2014, me afastei da vida urbana e embarquei em uma jornada em busca de um novo estar no mundo. Ao longo de sete anos, a fotografia tornou-se um gesto de escuta e contemplação, captando a temporalidade espiralar da natureza.

Em 2014, iniciei um processo de desvinculação da vida urbana de São Paulo, em busca de uma nova forma de coexistir com o mundo. Essa decisão não foi apenas uma escolha pessoal, mas uma resposta às lógicas que fundamentam o modo de vida urbano e suas fronteiras rígidas entre o humano e o não humano. Ao me afastar das estruturas que sustentavam a separação entre natureza e cultura, encontrei no campo uma oportunidade para reconfigurar minha percepção do mundo. Durante sete anos, vivi e trabalhei em uma comunidade, onde a terra não era um mero recurso, mas um agente ativo de aprendizado, guiando práticas diárias e experiências coletivas.

Minha trajetória nesses anos foi marcada por deslocamentos que me permitiram circular por diferentes ecossistemas e temporalidades. Entre períodos mais longos no Uruguai e na Argentina, e passagens por Peru, Colômbia, Equador e outros territórios, sempre com base em uma área rural de Minas Gerais, onde as fronteiras entre humano e não humano se dissolvem em um fluxo contínuo de interações. Esse movimento constante, tanto físico quanto conceitual, tornou-se central para a construção de uma compreensão relacional da vida, na qual seres e paisagens co-emergem, interdependentes e inseparáveis.

A fotografia, nesse contexto, não foi um mero instrumento de registro ou representação, mas uma técnica de engajamento com o mundo. Ela se tornou parte de um processo de experimentação ontológica, por meio do qual busquei não apenas observar, mas cocriar com os elementos que me cercavam. O tempo da terra, com sua dinâmica viva e cíclica, foi capturado em imagens que não distinguem sujeito e objeto, mas revelam a contínua correspondência entre ambos. As fotografias dessa fase são uma extensão desse modo de existir, materializando a relação entre o que era vivido e o que emergia como forma de expressão sensível.

Se entendermos o ciclo como mais do que uma simples repetição, mas como uma espiral, a vida se revela em sua complexidade: um sistema que envolve múltiplas temporalidades, onde a regeneração e a transformação são constantes. Tal perspectiva espiralar permite reconhecer que não se trata apenas de um retorno ao ponto de partida, mas de uma reconfiguração desse ponto, transformado pelas experiências e pelos conhecimentos adquiridos ao longo do caminho.

Após sete anos, à medida que esse ciclo se aproxima de uma nova fase, começa a tarefa de organizar e reinterpretar os registros fotográficos acumulados. O projeto Sete nasce desse esforço de síntese, no qual encontro o entendimento do que essas imagens revelam sobre a relação entre seres e mundos. Aqui, as fotografias não pretendem ilustrar uma biografia pessoal, mas desvendar as camadas invisíveis de interações entre humanos, não humanos e os ecossistemas que habitam.

Sete propõe uma estética que rompe com a dicotomia entre natureza e cultura, aproximando-se de uma ontologia relacional, onde o humano é parte de uma teia viva que envolve terra, ar, plantas e animais. Este ensaio fotográfico visa transcender a lógica da sociedade de consumo e da exaustão, oferecendo uma visão do mundo onde o respiro, o aterramento e a regeneração são centrais. As imagens aqui reunidas tentam descrever, em termos visuais, um novo regime de relação, onde as fronteiras se dissolvem e a coexistência se apresenta como a condição essencial para a vida.

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as dobras do mundo